quarta-feira, 23 de maio de 2012

Revolta de Juazeiro - Conflito na história brasileira.

INTRODUÇÃO
Em 1914, o sertão nordestino foi novamente abalado por uma grande revolta popular de caráter religioso, ocorrida em Juazeiro do Norte, interior do estado do Ceará, e liderada pelo padre Cícero Romão Batista. Ao contrário do que ocorreu em Canudos, onde a população sertaneja lutou em defesa da posse da terra e de sua comunidade contra os interesses dos coronéis locais, os sertanejos de Juazeiro pegaram em armas para derrubar do poder o governador do estado do Ceará. O povo de Juazeiro, porém, lutou em defesa de uma causa que não era sua, pois a revolta popular foi preparada pelos coronéis da região com o objetivo de retomar o governo do Ceará.


CONFLITOS ENTRE OLIGARQUIAS
Para entender as causas da Revolta ou Sedição de Juazeiro, é preciso levar em consideração a luta entre as oligarquias pela conquista do poder político. Em 1910, os Estados de São Paulo e Minas Gerais romperam com a política do "café com leite" porque não chegaram a um acordo sobre a sucessão presidencial. As oligarquias de São Paulo uniram-se às da Bahia, e juntas apresentaram a candidatura do baiano Rui Barbosa. Minas Gerais, por sua vez, se uniu ao Rio Grande do Sul e lançou como candidato o marechal Hermes da Fonseca,que venceu as eleições.
Ao assumir a presidência,  Hermes da Fonseca procurou alterar a relação de poder das forças políticas, beneficiando as pequenas oligarquias em detrimento das oligarquias tradicionais. Foi com esse objetivo, que o presidente colocou em prática o que ficou conhecido como "política salvacionista".
Consistia basicamente em intervenções de tropas federais nos Estados, para substituir o poder uma oligarquia por outra. O governo federal justificava as intervenções como meio mais eficaz de acabar com a corrupção e depurar as instituições republicanas.



O GOVERNO DO CEARÁ
A política salvacionista foi a principal causa da Revolta de Juazeiro. O marechal Hermes da Fonseca decidiu intervir no Estado do Ceará com objetivo de neutralizar o poder das oligarquias mais poderosas da região, que estavam sob controle do senador Pinheiro Machado, um político com muita influência sobre os coronéis do Norte e Nordeste brasileiro.
A intervenção federal no Ceará derrubou do poder a família Acioly e em seu lugar colocou o coronel Franco Rabelo. Os coronéis aliados dos Acioly, reagiram, buscando o apoio do padre Cícero. O deputado federal Floro Bartolomeu, aliado de Pinheiro Machado, tinha grande influência sobre o padre Cícero.
Convenceu-o a usar sua popularidade para convencer os sertanejos da região a participarem de um levante armado contra a intervenção federal no Ceará. Liderados pelo padre Cícero, milhares de sertanejos pegaram em armas e se revoltaram. O levante foi tão violento que o governo federal cedeu, retirando o interventor e devolvendo o governo do Estado aos Acioly.

GUERRA SANTA
A condição de miséria das populações do sertão nordestino favoreceu sua subordinação a líderes religiosos, fanáticos e demagogos, que de tempos em tempos surgiam na região. Sob a influência do admirado e carismático Padim Ciço, os sertanejos cearenses participaram da Revolta de Juazeiro por acreditarem que estavam cumprindo uma missão profética e lutando numa guerra santa.

Porém, com o retorno da família Acioly ao governo do Ceará, o grande beneficiado foi, de fato, o mais influente oligarca da Primeira República, o senador Pinheiro Machado. Na memória e tradição popular do povo nordestino, porém, o padre Cícero é até os dias de hoje venerado como santo e profeta. Em Juazeiro do Norte, um enorme monumento erguido em sua homenagem atrai, todos os anos, multidões de peregrinos.

CÍCERO ROMÃO BATISTA
O município de Juazeiro do Norte, no Ceará, é um dos principais pólos de religiosidade do Brasil. Foi lá que viveu Cícero Romão Batista, o padre que tornado líder religioso de toda a região do Cariri e até hoje, decorridos mais de 70 anos de sua morte, ainda desperta a devoção de milhares de brasileiros, sobretudo os nordestinos.
Nascido na cidade do Crato a 24 de março de 1844, Cícero Romão Batista ordenou-se sacerdote em 1870 e, no Natal de 1871, celebrou a Missa do Galo no vilarejo chamado Tabuleiro Grande, como então se chamava a região que deu origem ao município de Juazeiro.  A ocasião impactou-o profundamente e, em abril de 1871 assumiu como pároco da pequena capela de Nossa Senhora das Dores existente na localidade. E de lá não saiu mais.
Padre Cícero era carismático e não tardou a se espalhar por toda a região a sua fama de místico e milagreiro. O maior de seus milagres teria sido a transformação da hóstia sagrada em vinho ao tocar a língua da beata Maria de Araújo, em uma missa celebrada pelo sacerdote.  O evento aconteceu ainda outras vezes, o que levou a instalação de uma comissão da Igreja para averiguar o fato, algumas vezes comprovado e outras, não. Isto custou grandes desentendimentos de Cícero com a Santa Sé, a ponto de ter sido promulgada a sua excomunhão, a qual, contudo, nunca teria sido cumprida.

Além de sacerdote, Cícero foi um grande articulador político da região, desempenhando papéis importantes na política local e nacional.  Alguns autores ressaltam que teria tido ligações com o cangaço, citando, inclusive, um possível encontro seu com Virgulino Ferreira, o Lampião.
O Padre Cícero morreu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos de idade. Em sua homenagem foi erguida na cidade de Juazeiro uma estátua de 27 metros de altura, a qual é considerada como o 4º maior monumento religioso do mundo. 

A Juazeiro acorrem todos os anos milhares de nordestinos, a pedir a bênção ao sempre vivo “Padim Ciço”, pagando promessas e agradecendo outras graças recebidas por intermédio do padre, a quem se acredita ser santo. 







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